Vitoret D, a compacta 35mm da Voigtländer

Numa época em que a máscara se tornou parte integrante da indumentária, e o álcool gel poderia até ser transportado em um recipiente ornamentado, atado à cintura – como em uma cartucheira que transporta uma arma, só que uma “arma do bem”, contra um inimigo número um da humanidade – vamos tentando de alguma forma sobreviver a essa ameaça viral que por longos meses está mudando hábitos, formas de pensar, e também criando problemas de depressão, tristeza, isolamento e morte.

Mas o recipiente ricamente adornado até que se torna desnecessário já que mesmo no mais distante e simplório boteco de uma remota esquina, sempre existe um frasco com o líquido sagrado que mais se assemelha a uma poção salvadora, milagrosa, hoje tão “viralizada” (desculpem o trocadilho…) que alguns intrépidos e etílicos frequentadores insistem em dizer que na falta do líquido original, “até que daria uma boa caipirinha”, mas são imediatamente contestados pelo proprietário do local, com seu incansável e pétreo bom senso.

E eu, um observador igualmente incansável, tento sair um pouco do isolamento social, e entrando de carona na flexibilização das atividades externas, vou andando pelas ruas do entorno, com minha inseparável máscara. Muito me deixa triste o grande número de pequenas lojas fechadas permanentemente, outras tentando de todas as formas sobreviverem e a vida segue. Fico na esperança que essas últimas consigam superar os obstáculos e que as primeiras possam de alguma forma reabrirem.

O que percebi também, é que as sobreviventes se reinventaram, mudaram esquemas de trabalho, mantiveram seus funcionários, e hoje estão, ainda na luta, porém mais fortes e mantendo um atendimento cordial e de qualidade. Uma dessas lojas, bem perto de casa é o exemplo mais fiel disso, uma pequena loja de doces, especializada em brigadeiros,

com uma rica decoração que mistura um ar retrô, com um toque de modernidade, um espaço aconchegante e acolhedor, que conta com o carinho dos funcionários e de seu proprietário, Rogério. Um lugar que quase diariamente passo e tomo um café.

Mas vocês devem estar se perguntando o que tem a ver uma brigaderia com fotografia? Não é somente a rima entre as palavras nem tão pouco a paixão que paira em muitos de nós pelas duas coisas… O uso do cacau e seus derivados remontam cerca de 1.400 anos a.C., e a fotografia, também antiga, remonta o final do século 18, com as primeiras experiências de Joseph Nicéphore Niépce em fixar imagens em diversas superfícies. Mas não é só isso…

O que me motivou a escrever esse artigo foi uma observação, na decoração da loja de brigadeiros. Por muitas vezes, ao percorrer com os olhos essa decoração, via uma câmara fotográfica sobre um móvel e que o adornava de forma a complementá-lo, junto com outros objetos, tornando aquele canto uma espécie de volta ao passado.

Essa câmara foi um presente de aniversário de um parente. Rogério, o proprietário, também era possuidor de vários equipamentos tais como projetores, filmadoras entre outros.

Uma Voigtländer, modelo Vitoret D. Compacta de 35mm em perfeito funcionamento, com seu estojo de couro original.

Ali mesmo, na mesa onde foi servido o café, entre um gole e outro, fui manuseando a câmera, observando seu mecanismo, porta traseira para carregamento do filme, disparador, diafragma, obturador, tudo perfeito em pleno funcionamento. Tanta observação que fez meu café esfriar…

A Voigtländer, fundada em meados do século 18, em 1756 por Johann Christoph Voigtländer, um oftalmologista e inventor que fabricava instrumentos de medição e óticos. No decorrer dos anos, foi agregando mais produtos, e após sua morte, em 1797, a continuidade da empresa foi mantida pela viúva, e filhos.

Johann Christoph Voigtländer

Entre as inúmeras inovações da empresa destacam-se a primeira lente zoom (36–82/2.8 Zoomar) em 1959 e a primeira câmara compacta de 35mm com flash embutido chamada Vitrona, em 1965. A Voigtländer foi passando de mão em mão, através dos anos, por grandes empresas como Carl Zeiss, Rollei até seu fechamento em 1971. Em 1999, a marca foi comprada pela japonesa Cosina, que deu prosseguimento à fabricação de lentes com a qualidade da lendária Voigtländer.

Esse foi um pequeno relato da história da marca Voigtländer, e sua ligação com brigadeiros, pandemia, máscaras e álcool gel.

“A referências estão dispostas em links ao longo do texto”

2 respostas para “Vitoret D, a compacta 35mm da Voigtländer”

  1. Gosto da galera Arte de Rua. Numa cidade cinza como São Paulo, encontrar lugares com essas artes e documentar isso… É genial.
    Mais uma vez… Parabéns!

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