“Câmera Velha”, uma nova abordagem sobre as lendárias câmeras analógicas e a legião dos “lomógrafos”

Num mundo completamente tomado por tecnologia, smartphones fantásticos, câmeras cada vez mais leves, versáteis e caras, ainda existem saudosistas que mantém viva a arte de fotografar com câmeras analógicas, utilizando os filmes de acetado cobertos com uma emulsão de sais de prata e outros agentes.

Canon AT-1 analógica

Um desses entusiastas é o Antonio Neto, e seu canal no YouTube Câmera Velha, um local onde se discute e se aprende muito sobre as técnicas centenárias de se escrever com a luz. Vale a pena ver o vídeo abaixo sobre uma arte nobre que está esquecida que é a Foto Pintura. Vejam a entrevista com o Mestre Júlio que mantém viva essa arte!

Desde as “câmaras escuras” originadas no século VI,

Princípio de construção da câmara escura

passando por Niépce (1765-1833), com sua primeira imagem fixada permanentemente numa placa de estanho com betume,

Considerada a primeira imagem permanentemente fixada, 1826, por Niépce

e de sua parceria com Daguerre (1787-1851), donde surgiram as primeiras imagens fixadas em placas revestidas com prata e iodo, os daguerreótipos,

Primeiro daguerreótipo bem-sucedido – 1826

e demais pesquisadores como Fox Talbot (1800-1877) com seus calótipos ou ainda Hércules Florence (1804-1879) até os dias atuais, o princípio básico de projeção de uma imagem em uma superfície é o mesmo. Seja em uma placa de estanho, vidro, metal, um filme com emulsão de prata ou ainda os CCD’s das modernas câmeras e celulares. Uma caixa escura onde a luz atravessa um pequeno orifício, ou uma lente, e se projeta num anteparo no fundo da caixa.

A Fotografia ou a arte escrever com a luz, ou ainda, a forma de se fixar uma imagem em uma placa suporte, não foi inventada ou descoberta por uma única pessoa. Várias personalidades da história envolveram-se nesse processo (algumas delas citadas acima) muitas vezes sem se conhecerem ou se comunicarem. Mas graças a essa insana procura por um processo de imortalização da imagem, que saísse do monopólio da pintura, é que temos hoje um mundo cheio de possibilidades nessa área.

Entusiastas como Antonio Neto, com suas fantásticas experiências visuais, câmeras analógicas, descoberta de novos suportes para se fixar a imagem sempre documentados em seu canal digital, traz para a atualidade – e disponibiliza vasto conteúdo de informação – processos fotográficos centenários a todos os amantes dessa arte.

Entusiastas, em nível mundial, também convergem para um nicho da fotografia, que ganhou até um nome próprio: LOMOGRAFIA.

A Lomografia como expressão de arte

Os “lomógrafos”, como são chamadas as pessoas que cultuam, amam e veneram as câmeras portáteis, automáticas, analógicas, simples em ajustes, formam uma legião de milhões ao redor do mundo.

Lomógrafos e Lomografia derivam da palavra LOMO (Leningradskoye Optiko Mechanichesckoye Obyedinenie ou União de Óptica Mecânica de Leningrado), nome de uma indústria soviética fabricante de equipamentos ópticos que, em 1982, recebeu ordens do então general e Ministro da Indústria e Defesa Soviético, Igor Petrowitsch Kornitzky, para criar uma câmera simples e compacta para ajudar na propaganda governamental sobre o modo de vida dos soviéticos visto que todos poderiam possuir uma câmera dessas, simples e barata e fotografariam tudo a sua volta. E deu certo…

LOMO LC-A de 1988

A câmera foi vendida em massa dentro e fora da então União Soviética. E o que poderia ser um defeito, se tornou uma qualidade. Suas lentes de plástico, produziam efeitos ópticos interessantes, aberrações cromáticas e tudo isso tornava suas fotos únicas, com um charme especial.

O movimento lomográfico surgiu por volta de 1991, quando dois jovens de férias em Praga, Republica Checa, conheceram o modelo, já com lentes de melhor qualidade, e saíram fotografando de tudo. Quando voltaram e viram o resultado ficaram fascinados e fascinaram outros jovens da cidade. Não demorou muito para em 1995 ser criada a Sociedade Lomográfica, promovendo a venda de câmaras LOMO e eventos culturais na tentativa de impedir o desaparecimento das câmeras russas, já que a fabricante encerrou a produção.

Muita luta dos lomógrafos em manter viva essa arte culminou com o reaparecimento da lendária LC-A agora fabricada na China como LC-A+.

Hoje, a comunidade LOMO têm sedes em todo o mundo, Lomography Asia, EUA, Japão e Áustria, seu nascedouro.

Lomografia se tornou um estilo de vida até com algumas regras como: fotografar de tudo sem ao menos olhar no visor, levar sua LOMO onde quer que vá, sem pensar e agir rápido. E a regra principal: NÃO SE PREOCUPE COM REGRAS! É muito legal isso!

LOMO LCV WIDE comemorando o 30° aniversário da marca

Eu também tive muitas analógicas. Uma Kapsa, uma Argus C3 Machtmatic, uma Praktica MTL-3, e uma Canon A1. A Praktica e a Canon vendi mas hoje sinto saudade delas e já penso em adquirir de novo no mercado de usados antigos. Essas câmeras marcaram várias etapas da minha vida me acompanhando quase que diariamente em meus melhores momentos.

Pessoas como Antonio Neto e a legião de lomógrafos mantém viva a arte secular de registro de imagens e momentos da vida.

Referências

Lomografia

Daguerreótipo

Hércules Florence

Fox Talbot

Calótipo

Câmera Velha Website

Câmera Velha YouTube

Lomogracinha

Lomography Câmera e História

Artigo na BBC Brasil sobre os 20 anos da Lomografia

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